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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Suficientemente crianças


Se tivesse que, em uma palavra, descrever minha impressão a cerca do Senegal e dos trabalhos que desenvolvemos diria: Necessidade! E, quanta necessidade! Diante disso, tenho (com muita freqüência) o sentimento de incapacidade e impotência. Há tanto para ser feito! Tantas “urgências” que eu me vejo sem idéias, sem saber o que fazer. Quando sei o que fazer, sou impedida pelas condições financeiras. Quando tenho os dois, faltam “trabalhadores”. Quando há estes, sou surpreendida por alguma barreira cultural e, novamente me vejo sem idéias, sem saber o que fazer. Quando sei o que fazer... E, assim sucessiva e (quase que) constantemente!

Hoje, em um maravilhoso tempo de desabafos, consolo e refrigério (desabafos por minha conta. Consolo e refrigério da parte Daquele que é amor) meditei em uma palavra que me fez lembrar o meu papel, que não é resolver os problemas que (sempre) insistem em aparecer. O meu papel, Naquele que me chamou, é- como uma criança- confiar.

“O grande problema do trabalho missionário é que o chamado de Deus seja ofuscado pelos problemas das pessoas a ponto de a compaixão humana se sobrepor totalmente ao fato de termos sido enviados por Jesus. Os problemas são tão tremendos, as condições nos deixam tão perplexos, que todas as nossas idéias vacilam e falham” (Tudo para Ele, 26/10). Nossa compaixão deve ser fruto de um coração sensível ao Espírito Santo, e nosso trabalho deve ser o resultado de uma vida de devoção e obediência à voz Daquele que mais amou a humanidade - a ponto de entregar Seu único filho por ela.

Quando me maravilho com os projetos, trabalhos, milagres, prodígios e maravilhas realizados no passado, percebo que não posso creditar nada à sabedoria ou capacidade humana, pois sempre que tentaram agir sozinhos vacilaram. Devo atribuir tudo à orientação divina, através de pessoas humildes que foram suficientemente crianças para confiar na sabedoria de Deus.

Sejamos assim: suficientemente crianças.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Diário de uma sexta-feira (parte 2)


Confesso que estou bem cansada, mas eu não podia adiar mais uma vez o tão prometido post acerca dos Talibes. Na verdade, este post não é sobre eles de fato, mas sobre uma prática adotada por eles e que é mais uma das "peculiaridades" da tal sexta-feira em Dakar.
Como eu já comentei aqui, e aqui, os Talibes (meninos "discípulos" dos Marabús) precisam passar o dia nas ruas pedindo dinheiro (que depois será entregue aos seus líderes.
Aí, há um tempo atrás, os meninos resolveram fazer greve (kkkkk pedir esmola já é profissão né?!). Isso mesmo: G.R.E.V.E!
Eles estavam achando que as doações eram muito baixas e, simplesmente, pararam de aceitar doações abaixo de um tal valor. Como as crenças da maior parte do povo aqui determina que eles devem dar esmolas para que recebam recompensas futuras e não castigos, o povo precisava aumentar o valor "ofertado".
Imaginem a cena:
"-Me dá dinheiro?"
"-Sim , pega aqui!"
"-Não, não isso é pouco. Estou de greve, isso eu não aceito. Obrigado"
"-Desculpe menino, com mais esse tanto (já abrindo a carteira) você aceita? Por favor!"

Claro que para nós, brasileiros, a cena é até engraçada né?! Greve dos "arrecadadores de esmola"! Mas, se pensarmos que todos estes -os que estão lucrando por trás desses meninos, os meninos, os pais que os entregaram a estes marabús e os "contribuintes"- são subjulgados, e escravizados por uma falsa-verdade e uma cultura opressora, nossa reação será outra.
Assim como no post anterior, os convido a refletir no que está por trás de tudo isso.

Oremos, mais uma vez, por esta nação.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Agora é que são elas!

No último post falei muito a respeito dos meninos (que já estão se tornando homens!). Neste, nada mais justo do que contar um pouquinho a cerca das mulheres (até porque assim, a oração daqueles que aceitaram o convite anterior pode ser mais específica!)
É realmente muito difícil ser mulher em um país como este. Tudo bem que existem alguns raros privilégios, mas sem dúvidas eles não compensam os sacrifícios.
Nós (incluindo as estrangeiras e, principalmente as estrangeiras- pois as ocidentais são vistas de uma forma generalizada e não muito "louvável") somos repletas de "deveres" e temos pouquíssimos direitos. O direito de ser respeitada, por exemplo, ficou fora de nossa pequena lista.
Encontrar respeito da parte dos homens é muito raro. Salvo exceções (que são realmente de desconfiar).
Encontrar estratégias, que sejam eficazes, para trabalhar com essas mulheres não é tão simples assim. Elas são responsáveis por quase todo o trabalho, além de cuidar dos filhos. Carregam todo o peso sob suas cabeças enquanto trazem seus bebês nas costas.
Essa semana conheci uma missionária linda, com um trabalho lindo entre mulheres em um village (não citarei seu nome pois esqueci de pedir autorização, quem sabe numa próxima eu revele! Afinal, sonhamos em fazer algumas coisinhas juntas- aí aproveito pra descrever melhor o trabalho dela, pois é tão completo que eu se eu citar aqui esse post vai ficar imeeeeeenso).
Ela me contou de uma moça desse mesmo village que, dias atrás, ligou desesperada: seu pai havia combinado o seu casamento e ela disse que não queria se casar com o tal "prometido". Devido a isso, ela foi espancada pelos pais e irmãos.
Essa é apenas a história mais recente que eu ouvi, mas como essa existem muitas.
Sei que Deus se entristece muito com isso (e nós também não podemos ficar indiferentes). Afinal, Seu único filho foi entregue pra morrer por nós, pela nossa liberdade, e inúmeras pessoas ainda são mantidas sob jugos e prisões.
Não questiono aqui a cultura do povo, mas o que está por trás de tudo isto.

Que o amor do Pai se revele a essas mulheres!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Um sonho possível

Que alegria!
Neste domingo recebemos, aqui em casa, os jovens que trabalham conosco (e que nós trabalhamos com eles, afinal, não sei quem acaba recebendo mais com tudo isso!).
A maior parte deles foi entregue, quando ainda crianças pequenas, a um "marabú" (espécie de líder espiritual) e passou a viver nas ruas pedindo esmolas e alimento. A quantia arrecadada deveria ser repassada ao tal marabú, caso contrário, eles recebiam severos castigos.
Era nessas condições que eles chegavam (e muitos ainda chegam, graças a Deus o trabalho continua!) em nossa "casa de acolha" em busca de novas roupas, alimentos, medicamentos, mas sobretudo de carinho e amor! E que amor que encontravam! O amor de um pai que os ama sobremaneira! Enquanto a crença que lhes ensinaram dizia que eles não eram nada, não mereciam nada e continuariam sendo assim, o Pai os chamou pelo nome e lhes disse: "Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês, diz o Senhor, planos de fazê-los prosperar e não de lhes causar dano, planos de dar-lhes esperança e um futuro" Jr 29.11

Ontem, com suas vidas transformadas, amigos, carinho, alimentos e um trabalho digno (e espero ansiosa por escrever contando com mais detalhes esta etapa) muitos puderam compartilhar seus sonhos e esperanças (depois de assistirmos um belo filme e comermos muita pipoca!).

Nosso trabalho atinge quase que em totalidade aos homens (devido a cultura e crenças locais).
Peço (àqueles que partilham da mesma fé que eu) que roguem a Deus para que nos dê estratégias para alcançar também as mulheres.
Esses homens merecem constituírem uma família feliz, né!? Vamos em buscas das "Rebecas"!

Abraços,

sábado, 16 de outubro de 2010

Venha e beba!


Por onde olho ao meu redor, tenho visto “desertos” (inclusive literalmente falando, haja vista a localização do Senegal!). A cultura, o idioma, até mesmo as necessidades deste país me fazem sentir absolutamente impotente, sem saber onde e como agir- como em um deserto. A saudade da família, dos amigos, do namorado, da rotina...

São tantas as pressões e os fatores circunstanciais que, sem que percebamos, nos “secam” fazendo aparecerem “desertos” ao nosso redor. Muitas vezes essas coisas nos sugam tanto, que chegam a sugar até mesmo nossa intimidade com o Pai.

Mas são nesses momentos que podemos ouvir o Espírito Santo de Deus nos convidar a bebermos Dele: “Se alguém está com sede, venha a mim e beba. Porque as escrituras declaram que rios de água viva correrão do íntimo de todo aquele que crer em mim” Jo 7. 37-38.

Se você, assim como eu, já experimentou essa sensação de “seca”, sabe o quão atrativo é este convite. Saber que, por mais que o sol esteja forte, a areia quente e o momento difícil, podemos nos refrescar e renovar Naquele que habita em nós.

Bebamos abundantemente da água que o pai nos oferece!

Deixemos, também, que o fluir destas águas inundem e abundem os desertos que- vez ou outra- precisamos atravessar.

O segredo é atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no interior da sua alma.”

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Onde não tem caminho

"Deus abre caminho, onde não tem caminho!"

Essa frase é parte de uma música que eu ouvi muito estes últimos dias e que tem falado demais ao meu coração. A música é em Crioulo, por isso não me arriscarei escrever, mas prometo que assim que eu conseguir a letra a escreverei aqui!

Tive o privilégio de visitar um village (vilarejo, povoado) próximo ao Lago Rosa- Senegal. Foi uma grande experiência- em muitos aspectos! Espero conseguir transmiti-los um pouquinho de tudo o que eu vivi.

Comigo, a missionária Cristina (muitos conhecem nossa história) e a Juliesbertina. Juli é a responsável pelo trabalho neste village. É impactante ver a dedicação e o empenho dela em realizar esse trabalho. Toda a semana ela sai de Dakar (onde nos auxilia no trabalho com meninos em área de risco) e vai até esse vilarejo no Lago Rosa. Lá, ela abriu uma escola com as crianças (sua filha, Aida, a ajuda). São em torno de 30 crianças. Ela tem também trabalho com as mulheres e o sonho de muitos outros trabalhos.

Para se chegar lá, são precisos vários "jaganjai's", "carrapides" e "Kalandoos" (meios de transportes bem comuns aqui) e muitas horas em uma viagem quente e desconfortável. Depois de tudo, ainda é necessária uma boa caminhada na areia do deserto. Faço questão de falar a respeito disso. Deus precisa levantar mais "Juliesbertinas", que não se deixam levar pelo cansaço e desânimo, mas que rumam ao alvo proposto a elas.
De fato, não "há caminhos" que a levem até lá, mas ainda assim, Deus a tem conduzido!

Ao chegar, é preciso avisar ao "chef" do village. Que- pela graça de Deus- nos recebeu com alegria. Foi ele que, há um tempo atrás, permitiu que fosse realizado o trabalho lá.

Conforme vamos nos aproximando, as crianças começam a "surgir" (é incrível a grande quantidade que chega em "um piscar de olhos"). E, é inevitável o tempo de descontração e brincadeiras com elas. São todas lindas e extremamente carentes. Quando viram que uma "tubab" (que é como são chamados os estrangeiros brancos) estava no village, vieram todas correndo para me cumprimentar e dar as boas-vindas.E que boas!

Depois de muito brincar, contar historinhas, dançar, tirar fotos (elas não paravam de pedir), comer (levamos lanchinho para elas), dançar denovo (eles amam) e tirar mais fotos, fomos até uma montanha- de onde é possível enxergar o village quase que por completo.
Lá eu orei muito por eles. A situação me fez lembrar a música: "De todas as tribos, povos e raças, muitos virão Te louvar. De tantas culturas, línguas e nações, No tempo e no espaço, virão Te adorar. Bendito seja sempre o cordeiro, filho de Deus, raiz de Davi. Bendito seja o Teu santo nome, Cristo Jesus presente aqui." A presença de Deus ali era perceptível naquele momento.
Lembrem-se deles em suas orações também!

Depois de tudo- e já chegada a noite- o culto!

Me senti como em um daqueles livros missiológicos. Em pleno deserto, a luz somente das estrelas (e de um celular, que foi o que permitiu a leitura bíblica, porque tinham acabado as velas), esteira no chão e todos com alegria chegando para ouvirem a cerca do nosso Pai (e isso tbm me faz lembrar a alegria de conhecer mais irmãos, partes da nossa família em Cristo).
O culto não tinha hora para terminar. As crianças que foram pegando no sono eram deitadas por sobre as nossas pernas. Todos muito atentos. Todos mui sedentos.

Quando tudo terminou, arrumamos nosso mosquiteiro por sobre aquela mesma esteira e dormimos. No outro dia, antes de amanhecer já estávamos saindo (e é claro que não mais como chegamos!).


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Diário de uma sexta-feira


Boa tarde!!!

Hoje faz uma semana que eu estou no Senegal e muita coisa já aconteceu desde então!
Louvado seja Deus!

Hoje é sexta-feira, um dia bem especial para a cultura senegalesa. Aqui, na sexta-feira as pessoas saem de casa muito, mas muito arrumadas (principalmente as mulheres e crianças). Parece que todas estão saindo para uma festa!
Neste dia tem uma importante oração islâmica e, como eu contei, as pessoas lavam as mãos e os pés 3 vezes (cada parte). Os homens precisam lavar também o seu órgão reprodutor (se é que me entendem!) antes de urinarem. Nos locais em que não tem água, eles esfregam nos muros, paredes...para "purificar". Um tanto quanto "estranho" para nós né?!
Depois de "purificados", todos se ajoelham em seus "tapetinhos" e oram. Vale lembrar que somente as mulheres que já estão na menopausa podem orar com os homens. Caso contrário, elas precisam estar separadas.
Eu queria tirar algumas fotos, em especial das mulheres e crianças com suas roupas brilhosas, suas perucas (que é bem comum e "moderno" aqui) e assessórios, mas não consegui ainda. Aqui a fotografia gera duas reações: ou eles ficam muito bravos, ou pedem dinheiro...
Mas não desistirei, em breve vocês terão fotos para que as imagens mostrem o que eu tento transformar em palavras.

A foto acima é em meu trajeto para a churrascaria (ministério que eu já expliquei em um dos primeiros posts). Quando eu passo, as crianças ficam na minha volta: "-Bonjour "tubab"...para elas é o máximo receber o "oi" de uma branca. Ainda fico meio sem reação diante dessas coisas, mas oro para que o Senhor me use para Seu testemunho e glória.

Abraços,
Sabrina

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Bonjour

Bom dia!
Aí vai uma fotinho da minha padaria. Será difícil vocês me identificarem, afinal, eu me pareço muito com os vizinhos, né?!



De fato, não existe lugar mais agradável que o centro da vontade do Pai. Estou muito feliz!
Louvo ao Senhor pela vida de cada um de vocês, que me acompanham nessa jornada.

Então a nossa boca encheu-se de riso, e a nossa língua de cantos de alegria. Até nas outras nações se dizia: "O Senhor fez coisas grandiosas por este povo".

Abraços,
Sabrina

sábado, 2 de outubro de 2010

Fotos e Fatos

O dia hoje foi muito agradável.
O calor (quase insuportável) e o fato de ser a folga de alguns membros da missão aqui, levou-nos à praia- ótima, diga-se de passagem- lá, pudemos, além de desfrutar da sombra e água fresca (literalmente) nos conhecemos melhor e conversamos bastante sobre idéias, projetos e etc...
Na praia também pude ver coisas diferentes (e até engraçadas). Uma boa experiência.
Encontrei também outros missionários brasileiros (até pq eram os únicos brancos de toda a praia). Foi um prazer conhecer esses servos de Deus!
Vendedor na praia

Chegando da praia, mais uma "surpresa". A rua da minha casa estava fechada (observem a lona na foto)! Está (neste exato momento) acontecendo uma festa/ritual islamica e animista. O clima é bem tenso, muuuito barulho e muitos gritos (muitos mesmo).
Eles ficam horas e horas dançando e gritando. Parecem estar em transe.
Orem para que o Senhor nos proteja de todo o mal. E orem também para que esse povo possa conhecer a verdade que os libertará de toda essa prisão- que os exige tantos sacrifícios..


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

À primeira vista!

Oi Gente!
Primeiro post já na "terra prometida"!
Que alegria (e que calor!!!).
Muito obrigada pelas orações! Continuemos firmes.

Cheguei nesta madrugada e já fui impactada por diversas "cenas" que presenciei.
Além de todo o "caos" da chegada (mas que eu já havia sido bem avisada), quando chegamos, tinha pelo menos 10 meninos dormindo na calçada em frente a minha casinha.
Outra coisa que eu sempre ouvi falar e sempre tentei imaginar era os tais "chamados para oração". Estava caminhando por uma rua bem movimentada e percebi que todos lavavam seus pés com uma garrafinha de água (momento da purificação), logo depois, as mesquitas começam a tocar e há uns gritos por toda a parte, até que todos se ajoelham em seus respectivos tapetes e ficam por um bom tempo repetindo suas orações.
No mínimo "diferente", né?! Ao menos para nós, brasileiros. Para mim, bem opressor.
Hoje, sexta-feira, também é o dia da esmola. Mas, essa história merece um post exclusivo. Prometo escrever com detalhes!

A foto acima é da esquina da minha casa. A rua toda é cheia de ovelhas, cabritos, roupas pela calçada, crianças (que ficam gritando enlouquecidas "tubab" quando alguém branco- como eu- aparece). Enfim, tudo é muito diferente e eu estou muito animada e com expectativas no que Deus tem pra fazer aqui.

Abraço forte,
Sabrina Dummer