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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Coisas que a gente não explica

Gente, esse não é um post tradicional. Não conto aqui um lindo testemunho, uma aventura engraçada, e nem mesmo compartilho uma profunda meditação. Ainda sem um fim, narro uma experiência que faz parte das nossas rotinas (não necessariamente com os mesmos personagens).

Aqui em Dakar, como é do conhecimento de alguns, divido apartamento com mais uma missionária- Cristina. Os custos em geral são altos: aluguel, luz, telefone, mas nunca tivemos muita despesa com água. Nossas contas de água iam de R$ 2,00 a R$ 40,00- vocês já entenderão o porquê deste dado.
Há dois meses minha colega foi para o Brasil, e, por precaução e segurança eu saí do apartamento, e fui morar em um quarto junto a churrascaria até que eu tivesse alguma companhia. O bairro não é o que podemos chamar de "seguro" para uma menina (branca) e sozinha.
No início desta semana (dois meses após) fui até nossa casa para buscar as faturas e checar se estava tudo bem. Para minha surpresa (e indignação) a conta de água estava no valor de R$ 300,00. Ninguém havia ido ao apartamento durante todo esse período. Entrei rápido no apartamento, mas estavam todos os registros extremamente fechados.
Fui até a companhia de água (SDE) e relatei o que havia acontecido, mostrei-lhes as faturas antigas (de quando eu realmente usava a água) e pedi que o caso fosse revisto. O senhor que me ouvia riu (de forma debochada) e disse: "Bem vinda ao Senegal, tubab (palavra que designa os estrangeiros)!". Não consegui decifrar o que eu senti no momento, só sei que fiquei sem reação.
Procurei então, outros meios. Fui até a sede principal da companhia. Eles me ouviram e pediram que eu retornasse em dois dias (inclua nesse parágrafo longas caminhadas e horas de espera).
Dois dias depois, retorno. Confesso que estava bem esperançosa- afinal, eu só queria justiça. Esperei, esperei, esperei...e, quando finalmente fui atendida, a resposta foi a de que aquela fatura era mesmo verdadeira. Como? Não sei. Tentei argumentar, explicar e “re-explicar”, mas sem sucesso.
Novamente eu não decifrei o que senti (e isso é comum acontecer comigo aqui no Senegal, muitos sentimentos desconhecidos), só sei que eu comecei a chorar. Chorei compulsivamente, nada me fazia parar. Na minha mente passava um filme com todas as situações em que eu enfrentava neste país tão distante. O que, afinal, eu estava fazendo ali? -Ninguém entenderia se eu contasse. Se eu fosse colocar no papel, o “saldo” do meu tempo aqui somariam muito mais imprevistos e frustrações do que grandes realizações e acertos. Por que então?
Saindo do mundo dos meus pensamentos e voltando ao momento em que eu chorava em frente aos funcionários da SDE, uma senhora muito gentil tentava me ajudar como podia. Disse que iria parcelar aquele valor (o que facilitaria o pagamento, mas continuava sendo difícil e injusto) e que enviaria um encanador pra verificar se havia algum vazamento interno. Ela dizia também, constantemente, para eu parar de chorar- mas eu não conseguia. Nem parar de chorar, nem explicar o porquê das lágrimas.
Foi então, que ela me perguntou se eu acreditava em Deus. Vocês podem imaginar o impacto dessa pergunta para mim naquele momento? Respondi que sim, que justamente por crer em Deus e crer que Ele amava os senegaleses foi que eu deixei tudo no Brasil e estava lá, naquele momento com ela. Ela me abraçou e choramos juntas. Eu cristã, ela muçulmana.
Agora éramos duas a chorar. Ela me levou pelas salas da empresa e me apresentou a todos. Contava a eles que eu estava aqui porque amava a Deus. Após o “tur” de lágrimas, me despedi dela e vim para casa.
A questão da conta não foi resolvida (apesar de amenizada por suaves parcelas), ainda não encontrei justificativas pra todo aquele choro, não sei também o que aquilo significou para os funcionários da empresa (que- em cadeia- foram unindo-se a nós em lágrimas), mas a resposta àquela pergunta eu sei com convicção: EU CREIO EM DEUS! Entendi que isso bastava.

6 comentários:

  1. Deus vai lhe suprir para o pagamento desta conta! Pois estás ai passando um sufoco danado tudo por amor a Ele. A recompensa será grande.

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  2. Fique tranquilo que Deus sabe todas as coisas, Ele sabe de tudo o que precisamos, mesmo antes de pedirmos. Bjão

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  3. Esqueci de contar uma importante parte:
    quando a senhora me levava pelas salas da companhia, outros começavam a chorar junto. Como um mover sobrenatural. Inexplicável.

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  4. Dizer-te: tão somente esforça-te e tão e tende bom ânimo!". Mas será que realmente cabe dizer tal coisa. Palavras fáceis e que talvez possam perder força vindo de um "mundo confortável". Na real, na real mesmo te digo: a realidade é dura e cruel. Mas até onde pode ir nossa fé, até onde pode ir nosso amor a Ele? Até muitas lágrimas, até muitas dores... não sei! Mas de uma coisa estou certo! Ele sabe! Sem mais clichês... segura a onda e viva este tempo!

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  5. É lindo saber que Jesus fez e faz maravilhas em nosso meio. Admiro tua coragem e desejo do fundo do meu coração que o Senhor te cubra de bênçãos e te conceda muita força e sabedoria para cumprir o propósito que Ele traçou em sua vida. Fico muito feliz em saber que uma jovem tão bonita largou tudo para fazer a vontade de Jesus. Saiba que só de você ter chegado até outro país para levar a palavra de Deus, já é uma grande vitória, pois é um grande testemunho e exemplo. Que Deus te abençoe muito e tenha certeza que independente de qualquer coisa você já uma grande guerreira. O Senhor ainda vai operar muitas maravilhas através da tua vida.Estarei orando por você e por todos os missionários! Um Forte Abraço!

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